Crateús: cidade terá o primeiro assentamento de famílias negras do estado do Ceará
Existem vários tipos de assentamentos rurais no Brasil. No Ceará, já são mais de 300, apenas com o selo do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), que funciona como política complementar à reforma agrária, uma vez que permite a incorporação de áreas que não podem ser desapropriadas. Para incentivar à inclusão e equidade de grupos específicos, o Programa prevê ainda selos com adicionais em recurso, os selos Terra Negra Brasil, Mulheres Trabalhadoras e Juventude. Em Crateús, cinco estão sendo encaminhados por meio dessa modalidade. Entre estes, uma novidade: um deles contemplará famílias negras. Será o primeiro assentamento de famílias negras do Estado do Ceará.
A Fazenda Novilho, há 22km da cidade, será a nova terra desta etnia composta por dez famílias. São cerca de 190 hectares de terra, com açude, cacimbões, caixa d´água, seis casas, eletrificação, poço, entre outras benfeitorias, em localização privilegiada, próxima aos municípios de Crateús, Tamboril e Nova Russas. Muitas destas benfeitorias estão desativadas, como é o caso do poço. Outras funcionando, mas necessitando de reformas, como o curral para animais. Também inexistem cercas. Os novos proprietários, que atualmente enfrentam também a carência de água terão muito trabalho pela frente para tornar a propriedade produtiva.
O presidente da Associação da Unidade Produtiva da Fazenda Novilho, Manoel Rosa, foi quem despertou há um tempo atrás o sonho de comprar a propriedade dos demais moradores, que fazem parte das dez famílias negras e residiam há muitos na localidade. "Doía ver a propriedade disposta à venda há uns três anos, então de repente, veio em mim a ideia".
Procurou o supervisor Cléber, natural do Município, para obter informações sobre a concretização do sonho. E encontrou por parte do supervisor abertura para iniciarem com os trâmites legais acerca da compra da propriedade. "Daí em diante foi sonhar e trabalhar muito", diz Manoel referindo-se ao caminho longo que percorreu neste ano tratando sobre reunião com os moradores, a negociação da terra com os proprietários, projeto, documentação da Associação e entendimentos para o financiamento.
Há um mês para realizar o sonho, já que o projeto encontra-se na fase final, o agricultor de 61 anos têm agora outros sonhos. "Já fico imaginando esta terra com muitos plantios, o açude cheio, o verde como sendo a maior paisagem, a cerca feita, as cisternas, a criação de animais, tudo sendo cuidado por nós". Ele afirma não temer os desafios de recuperação e de investimento que terá nos próximos meses, junto com as demais famílias, que são na realidade parentes. "Trabalharemos com muito gosto, pois será para nós, era um sonho antigo possuir terra própria", conta lembrando as inúmeras vezes que já se destacou para o sul do País em busca de oportunidades de trabalho e voltou para a sua terra natal, logo que o inverno chegava. "Meu lugar é aqui", acrescenta. A data para fechamento legal do negócio está marcada para o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que será um marco na vida das famílias.
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